Confira o que querem as meninas feministas no Manifesto Mandala da Diversidade

Manifesto Mandala da Diversidade: Nossas Diferenças, Nossa Fortaleza
Porto Alegre, 5 de agosto de 2017

Assistimos, diariamente, à tentativa de retirada de direitos, ao ataque às mulheres nas suas mais variadas formas de violência, ao genocídio da juventude negra e ao avanço de uma onda conservadora. E como disse Kimberlé Creenshaw,uma das mais importantes teóricas do feminismo interseccional, é necessário compreender que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade de acordo com a maneira a qual a sociedade as encara.
Os padrões culturais de opressão estão diretamente ligados aos conceitos de raça, gênero, classe, capacidades físicas e mentais e de etnia. Diante disso, nós, jovens mulheres negras do projeto Mandala da Diversidade, militamos por um feminismo interseccional, plural e inclusivo.
Queremos o fim do Racismo Institucional, que provoca milhares de mortes de mulheres negras e o encarceramento em massa de jovens homens e mulheres negras; queremos o fim do genocídio do nosso povo. Além disso, ansiamos pelo fim da mídia sexista que nos vê e apresenta como meros objetos de caracteres subalternos, cujos lugares são aqueles ligados à exploração do corpo.
Queremos a nossa humanidade e visibilidade que constantemente são negadas pelo racismo, pelo patriarcado, pela LGBTfobia e pelas tantas outras formas de preconceito e discriminação. Mais ainda, queremos educação de qualidade, bem como o tratamento de assuntos de gênero, sexualidade, identidade, étnico-raciais e feministas em nossos espaços de vivência.
O projeto Mandala da Diversidade nasceu a partir do desejo do Coletivo Feminino Plural e do projeto Ponto de Cultura Feminista: corpo, arte e expressão, de envolver mulheres feministas parceiras – do Grupo Inclusivas, Oluchi Turbantes e Outra Visão, e meninas jovens. O objetivo principal foi de promover seus protagonismos considerando a diversidade e as diferenças.
Ao longo de 12 encontros, cerca de 20 meninas se envolveram diretamente nas atividades compostas por oficinas de teorias feministas e de sensibilização; por rodas de conversa e saídas de campo para o cinema, onde assistimos ao filme “Carol”, e ao Theatro São Pedro, onde assistimos à peça “O Topo da Montanha”.
O grupo é formado predominantemente por jovens mulheres negras o que, é claro, é um forte fator de influência sobre a nossa percepção de mundo e sobre os nossos anseios. Desse modo, além do impacto que as diferentes vertentes feministas apresentadas nos causaram, conviver com um grupo de semelhantes proporcionou exercitar o autoconhecimento ancestral, possibilitou a criação de vínculos verdadeiros, desvestindo corpos docilizados por um sistema que alimenta apenas um padrão do feminino como certo. Com isso, tecemos laços de afetividade e exercitamos os renascimentos individuais e aprendizados através da pintura e da construção da nossa Mandala.
Na experiência de troca entre mulheres jovens com mulheres ativistas, em uma perspectiva feminista, nos inspiramos na militância e/ou nas teorias de diversas mulheres, como Rosa Parks, Angela Davis, Simone de Beauvoir, Maria da Penha, e nossas avós e mães, valorizando aquelas que vieram antes de nós, mulheres cujas lutas e resistências nos inspiram, de forma que por elas e pelas próximas que virão, seguiremos nossa caminhada.
Continuaremos a buscar dar visibilidade às lutas pelos direitos de nós, mulheres, considerando nossas especificidades, tanto no âmbito das orientações como na erradicação de todas as formas de violência. Seguiremos críticas e resistentes aos modelos de fundamentalismos econômicos, políticos, e religiosos imperantes em nosso país, bem como nos inserimos no campo do ativismo feminista.
A Mandala da Diversidade continua e deverá partir, agora, para uma nova fase: de levar às nossas comunidades e a outras mulheres jovens nosso conhecimento; nossas pautas e reflexões; nossos questionamentos e afetos, a fim de promover o engajamento social das mulheres. Em nosso ato não há espaço para o silêncio, contrapomo-nos a todas as formas de violência; multiplicamos e revigoramos forças de existência na tessitura da alteridade e da resistência feminista!

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