2015 Foi o ano em que Feminismo deixou de ser um palavrão no Brasil. Conheça suas protagonistas na música – segundo FFW

Por Apolinário, especial para o FFW – Em um ano repleto de descontroles, catástrofes ambientais e políticas, planetas retrógrados e reavaliações de nossas interações com o alimento e a “vida” online,  era inevitável que muitas das respostas encontradas nesses debates pessoais e sociais trariam ao campo de discussão algumas deficiências da sociedade moderna, até o momento veladas pelo medo.  Liberdade e libertação, destas palavras viveram os últimos meses. Em tomada de ruas, as minorias, abrasadas pela faísca da mudança, acenderam a tocha, que foi empunhada em levante de uma nova realidade. Deste spot,alguns movimentos tomaram proporções maiores e tonificaram-se, como o feminismo, o assunto da coluna desta semana.

A luta é nossa, mas a batalha é em suma enfrentada por elas e faria pouco sentido apenas relatar factuais sobre o feminismo neste ano. Logo, Joelle Marie Declercq – redatora e repórter na Vice Brasil – faz o balanço de 2015 e aponta como todos os fatos refletiram na consciência feminina e feminismo, neste ano, para todas.

“Se tem uma conquista para as mulheres em 2015 é a de que definitivamente se considerar feminista deixou de ser um palavrão. Além disso, com o engajamento nas ruas e na internet (instrumento  importantíssimo para o movimento), mais mulheres negras e mulheres transexuais estão reivindicando seu espaço na luta por seus direitos.

Depoimento da Consulesa da França, Alexandra Loras, na Marcha das Mulheres Negras deste ano

Ser feminista, além de uma posição política, é algo que toda mulher carrega em si. Pelo direito de ser ou não ser mãe, pelo direito de ser fora dos padrões de beleza e pelo direito de ser um ser humano em toda sua completude. Esse ano, tive a honra de poder ir às ruas ver mulheres de todas as idades e classes sociais pedirem a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por criar um projeto de lei que dificulta o acesso ao aborto.

15 mil mulheres vão às ruas contra Eduardo Cunha e a PL 5069

Tive o prazer de ver garotas e estudantes secundaristas liderando movimentos estudantis em São Paulo contra a reforma da educação estadual. As campanhas #meuprimeiroassédio e #meuamigosecreto aumentaram 40% das denúncias policiais em casos de machismo e abuso. O feminismo agora estampa capas de revistas de moda, faz mulheres, que outrora eram invisíveis, contarem sua história.

2015 foi também o ano em que as mulheres exigiram mais espaço. Cada vez mais jovens mulheres estão sendo empoderadas a criar a consciência de que a mulher tem um lugar na arte, política e sociedade para além de inertes seres decorativos. E tem ainda muito espaço para ocupar.

Acima de tudo, o feminismo nos faz ser seres humanos melhores e nos mostra que jamais as mulheres devem se contentar com pouco.”

Pela luta por igualdade. Pela sororidade. Pelo fim do racismo. Pela aceitação e despragmantização das escolhas de gênero, pois apenas quem sente na pele sabe das dificuldades inerentes. A seguir, uma seleção de mulheres importantes para a causa em 2015.

Elza Soares

Elza Soares

ELZA SOARES

“Se eu quiser fumar, eu fumo, se eu quiser beber, eu bebo”. As estrofes escritas por Alyce Chaves e Paulo Marques na canção Lama, Elza em seu timbre tempestuoso e rouco orquestrado numa disritmia calculada fez de sua primeira apresentação na Rádio Tupy, pólvora para a explosão que seria sua trajetória musical. Aos 78 anos, Elza, lançou “A Mulher do Fim do Mundo”, álbum de inéditas, que vêm empoderar a mulher e fazer de cada verso e estrofe armamento bélico lírico para a auto-proteção das mulheres como na faixa “Maria da Vila Matilde”: “eu corro, solto o cachorro. E, apontando pra você, eu grito péguix guix guix guix”

Em entrevista ao Huffington Post, Elza deixa algumas palavras em cárater de mantra. “A gente sabe que mulher sofre muito ‘escondidinho’. Tem que gritar, tem que falar, tem que botar pra foder mesmo.” O albúm “Mulher do Fim do Mundo” é a confirmação de que Elza ainda estrelará em muitos palcos com seu icônico salto de 15cm e, sem dúvidas, cantará até o fim do mundo que vivemos, em busca de um novo mundo melhor.

+ A Mulher do Fim do Mundo

Lay Moretti

Lay Moretti

LAY MORETTI

Feminista e militante, Laysa Moretti encabeça a Bucepower Gang – Tumblr no qual mulheres  podem publicar em consentimento fotos nuas, na missão de conscientização e debate da liberdade erótica feminina. Assim, despida de puritanismo e pecado,  a paulista de 23 anos faz da sua estética uma mescla da sensualidade latina – do início dos anos 2000 – acompanhada da força nas rimas à la Lil Kim e Da BRat. Em seu primeiro EP, 129129 – que será lançado em janeiro –, Lay faz jus ao termo sororidade e a ferocidade da mulher brasileira em versos como “Saudação a todas as bucetas, mais peitos e menos tretas”.

+ Lay – 129129

Karina Buhr

Karina Buhr

KARINA BUHR

De peito aberto e nua, a arretada baiana radicada em Pernanbuco Karina Buhr começa Selvática envolta em polêmicas sobre o corpo feminino e a liberdade do mesmo, já na capa. Selvática – nome dado às guerreiras de Maomé, único exército formado apenas por amazonas que lutaram contra a colonização na África, no século 19 –mistura as guitarras de rock a seu discurso de empoderamento feminino, como em “Eu sou um Monstro”: “Mulher, tua apatia te mata. Não queira de graça o que nem você dá pra você, mulher”.

+ Karina Buhr – Selvática

MC Carol De Niterói

MC Carol de Niterói

MC CAROL DE NITERÓI

Após sofrer em um relacionamento com um namorado ciumento, possessivo e violento,MC Carol de Niterói encontrou nas bases do funk ferramenta para documentar seu cotidiano e como reverteu este cenário. Compôs “Meu Namorado é o Maior Otário”, onde a cantora e compositora troca de cenários, colocando o homem na posição submissa, reavaliando o sentido de poder doméstico: “Meu namorado é maior otário, ele lava minhas calcinhas. Se ele fica cheio de marra, mando ele pra cozinha”.

+ Mc Carol de Niterói – Meu namorado é maior Otário

Karol Conká

Carol Conká

CAROL CONKÁ

“Mamacita fala, vagabundo senta”. É assim que o single Tombei, de Karol Conká,ganha as ruas, picapes e soundsystem’s de todo o Brasil. Mulher, negra e rapper, já possui inúmeros adjetivos que a colocam na luta pela igualdade e representatividade de gênero, mas a curitibana de 28 anos quer tirar da zona de conforto a cena rap nacional com sua militância cheia de humor e cravejada de lantejoulas. “Eu sonho com o dia em que outras meninas, quando virarem MCs e falarem sobre suas inspirações, só falarem os nomes das brasileiras”, afirma Conká em entrevista ao Espaço Humus.

Fonte: FFW, publicado em 17 de dezembro de 2015.

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