As mulheres totalizam 51,3% da população brasileira e formam a maior parte do eleitorado, correspondendo a 52% do total, conforme levantamento feito em 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral. Porém, a presença percentual feminina no Parlamento ainda é muito baixa. Segundo a cartilha do Senado Federal Mais Mulheres na Política, entre os países latino-americanos, o Brasil apresenta a penúltima pior situação, apenas à frente do Haiti, e está na 158ª posição entre os 188 países mundiais.
Para estimular a reflexão sobre a necessidade de mudanças no sistema político brasileiro, o Coletivo Feminino Plural criou o Mulheres, cidadãs que podem!. Por meio de aulas e oficinas, o projeto tem como objetivo capacitar mulheres para a liderança e o emponderamento de gênero, além de estimular a participação em espaços coletivos. “Temos a missão de buscar e trazer o emponderamento político e a qualidade de cidadania a elas”, explica a coordenadora de Comunicação do Coletivo e envolvida com as atividades de formação do projeto, Léa Epping.
O curso está sendo desenvolvido em seis regiões funcionais do Estado. Já passou por Porto Alegre, Lajeado, Rio Grande e Imbé, e faltam ainda Serra e região Norte. A meta é capacitar 280 alunas e que as mesmas estejam instruídas para as eleições municipais deste ano. Através de aulas teóricas e oficinas, as ministrantes estimulam reflexões sobre relações de gênero, cidadania e participação política, direitos humanos das mulheres, desigualdades, diversidade, ativismo feminista, políticas públicas, liderança e poder, comunicação política e planejamento. “Instigamos elas a se questionarem: ‘Estou aqui e quero chegar onde? Como faço para conquistar isso?'”, salienta Léa.
Na aula de políticas públicas, por exemplo, há uma dinâmica de como desenvolver determinada política. Os grupos questionam o que as cidades estão precisando, o que é necessário para o desenvolvimento, desde criação, mobilização, articulação política, até os obstáculos para, então, a efetivação e o andamento da mesma. Há também uma oficina que aborda liderança, poder e emponderamento, que tem como intuito desmascarar a questão cultural de que as mulheres devem ficar na esfera doméstica e não são aptas para política. “Muitas vezes elas são uma liderança, mas não se identificam como. Estão inseridas na política informal, como uma liderança comunitária, por exemplo, porém não creem que estão envolvendo-se da política de fato”, conta a coordenadora.
Diferentes perfis participam dos cursos, como líderes de associações comunitárias, participantes de movimentos feministas, vereadoras e estudantes membros de grêmios estudantis. “Há um crescimento mútuo. Muitas vezes, ficamos na realidade local, e o fato de irmos a diferentes municípios faz com que desnude diferentes realidades e obstáculos”, destaca a coordenadora.
Em Lajeado e Rio Grande, a articulação das participantes no curso resultou na implementação do Centro de Referência da Mulher nas duas cidades. A aluna de Rio Grande Virginie Hanisch ressalta que, mesmo as mulheres sendo maioria, ainda são minoria em cargos de decisão e que o projeto é uma motivação para a inserção no meio. “O curso é enriquecedor, pois aborda desde o contexto histórico de movimentos feministas até a situação política atual (o afastamento da primeira presidente mulher do Brasil).”
A coordenadora reitera que, nos últimos anos, houve um avanço na sociedade em relação às questões de direitos humanos e de gênero. Porém, na questão da participação na política formal, não há esse reflexo. A cultura machista ainda reflete na vontade das mulheres participarem da política. “É preciso coragem para enfrentar os obstáculos, para se sentir forte. E este é o foco do projeto: realizar uma rede de energização em que todas saiam fortalecidas. Apesar de serem minoria dentro dos partidos ou no grupo em que elas atuam, ninguém está sozinha”, afirma Léa.