Nós, mulheres brasileiras, estamos estarrecidas com o golpe institucional contra a Presidenta Dilma Rousseff em nosso país. Sem crime, ela foi julgada e condenada pelos seus algozes, senadores pertencentes às elites mais corruptas e conservadoras, derrotados nas eleições de 2014, e que não aceitaram sua vitória. Foi objeto de uma traição de seu vice e antigos aliados, que por dentro do governo atuaram de forma degradante com a política. Seu impeachment não só a afasta do poder, mas sinaliza a todas as mulheres brasileiras que elas “não podem”, devem ser mantidas fora do poder. Um crime também de misoginia. Vislumbramos grandes retrocessos quanto à liberdade, à democracia e à cidadania.
Dilma Rousseff, a mulher afastada d Presidência da República é uma mulher digna. Militante política desde jovem, sofreu na Ditadura Militar as consequências da prisão, da tortura, do julgamento ilegal. Manteve-se íntegra e altiva, elegendo-se presidente pela primeira vez em 2011 e reelegendo-se em 2014.
Nos seus dois mandatos, para assegurar a governabilidade, obrigou-se a ampliar cada vez mais sua base político-parlamentar, sendo derrotada por ela mesma, pela união dos setores identificados com o agronegócio, com a produção de armas e munições, com o capital internacional que já começou a apropriar-se das nossas riquezas, os banqueiros e os fundamentalistas religiosos e de todos os tipos.
Nós, mulheres brasileiras, nos sentimos nesse momento derrotadas, mas ao mesmo tempo desafiadas a continuar lutando. Pedimos às nossas companheiras de todos os países que repercutam nossa posição. É de profunda tristeza, de coração partido, não há espaço nesse momento para outra coisa que não seja buscar solidariedade para os duros momentos que estamos passando e para outros que possivelmente virão.
Telia Negrão – Coletivo Feminino Plural