via Sul 21
Relatório divulgado nesta terça-feira (11), da ONG Save the Children, indica que o Brasil tem muito o que avançar em termos de direitos das meninas. O documento, que analisa índices de casamento infantil, gravidez na adolescência, acesso a direitos reprodutivos, escolaridade e participação de mulheres na política, colocou o país como 102º do mundo, dentre 144 analisados. Com isso, o relatório aponta que Brasil é o pior lugar da América do Sul para ser uma menina — na América Latina, fica na frente apenas de Guatemala e Haiti. O ranking é encabeçado por Suécia, Finlândia e Noruega. O primeiro país de fora da Europa é a Nova Zelândia, na 16ª posição, e o primeiro da América Latina é Cuba, na 34ª.
Segundo a Save the Children, a cada ano, 15 milhões de meninas se casam antes de completar 18 anos. Em países em desenvolvimento, o número chega a ser de uma a cada três meninas. Uma das formas de prevenir essa realidade é o investimento em educação: conforme o relatório, esta seria uma das principais maneiras de se evitar o casamento infantil. Na Índia, um dos países com pior índice em termos de casamento infantil, muitas meninas também abandonam os estudos para cuidar de irmãos mais novos.
A pobreza, a guerra e as crises humanitárias são os principais fatores que promovem os casamentos infantis. Segundo o documento, nos países onde há conflitos, muitas famílias preferem casar as filhas cedo como forma de as proteger da pobreza e da guerra. No mundo, a mortalidade materna é a segunda maior causa de morte de adolescentes entre 15 e 19 anos, enquanto a primeira é suicídio.
O casamento infantil e a gravidez na adolescência são dois dos fatores que colocaram o Brasil em uma posição tão ruim no ranking. “O Brasil é um país com uma renda média-alta, mas está apenas um pouco acima no ranking do que o Haiti, com sua baixa renda e fragilidade”, aponta o documento. A falta de representação política também fez o país cair: a ONG se baseou em dados da Women in National Parliaments, que avalia a porcentagem de mulheres nos parlamentos em cada país, que colocou o Brasil como 155º dentre 187 países. Dentre os eleitos em 2014, menos de 10% dos parlamentares são mulheres.
Os piores lugares para se ser uma menina estão entre os mais pobres do mundo: Niger, Chad, República Centro Africana e Mali. Ao mesmo tempo, o relatório aponta alguns exemplos positivos, como Ruanda, que está na 49ª posição, puxada pela alta quantidade de mulheres nos parlamentos (é o com maior índice do mundo) e por estar conseguindo prevenir bem casamentos infantis e gravidez na adolescência, quando comparado com países de renda semelhante.
A maioria dos países está com dificuldades para ter paridade de gênero na política, o que independe do tamanho da economia, segundo a Save the Children. Apenas três países com a maior proporção de mulheres nos parlamentos são considerados ricos: Suécia, Finlândia e Espanha. Ruanda lidera o ranking com 64%, seguido por Bolívia e Cuba. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos há apenas 19% de parlamentares mulheres, o que fez o país ficar em 32º no índice da ONG. O alto índice de mortalidade materna também colaborou para que a maior economia do mundo caísse no ranking, com uma taxa de 14 mulheres mortas a cada 100 mil nascimentos, índice semelhante ao do Uruguai e do Líbano. A Argélia, que está logo acima dos Estados Unidos, conta com 31% dos parlamentares mulheres, além de índices relativamente baixos de mortalidade materna.