Cris Bruel, Doutora em Psicologia Social e ativista do Coletivo Feminino Plural, e Priscila Leote, estudante de Psicologia e coordenadora do Coletivo Outra Visão.
“Muitas vezes penso que preciso dizer as coisas que me parecem mais importantes, verbalizá-las, compartilhá-las, mesmo correndo o risco de que sejam rejeitadas ou mal-entendidas. Mais além do que qualquer outro efeito, o fato de dizê-las me faz bem.” (Audre Lorde)
Seguindo as palavras de Audre Lorde, pensamos que é preciso falar, é preciso visibilizar aquilo que, muitas vezes, a opressão e a intolerância fazem questão de colocar à margem.
É por conta de uma cultura machista, sexista e heterosexista que se estabelecem hierarquias de opressão. A crença na superioridade de um sexo sobre todos os outros e o suposto direito a discriminação que vem junto a esta crença bem como a ideia de que existe uma superioridade inerente de um único modelo de amor sobre todos os outros faz com que cresça desmedidamente os ataques e insultos a mulheres lésbicas, ou àquelas que fogem do suposto padrão pré-estabelecido do que se considera “verdadeiro” e legítimo no que diz respeito à categoria “mulher”.
Neste sentido, surge o dia 29 de Agosto – Dia Nacional da Visibilidade Lésbica – que foi criado por ativistas lésbicas brasileiras e dedicado à data em que aconteceu o 1º Seminário Nacional de Lésbicas – Senale, ocorrido em 29 de agosto de 1996, em São Paulo. A importância desta data se evidencia pela urgente necessidade de se combater o ódio e a violência contra as mulheres lésbicas, recorrentes vítimas da misoginia no Brasil.
Muitas vezes os atos de violência, seja física ou psicológica, contra lésbicas se baseiam na ideia de controle e dominação sobre os corpos das mulheres. Existe a ideia de que nós mulheres lésbicas possuímos um comportamento fora da norma imposta às mulheres e que, portanto, não deveríamos possuir uma sexualidade que não fosse a heterossexual.
Neste sentido, sabemos que muitos dos casos das violências acometidas contra mulheres lésbicas são casos de violência sexual; os chamados “estupros corretivos” que seguem uma lógica patriarcalista que coloca o homem como autoridade curativa para “resolver” o suposto desvio que é a lesbianidade.
Esses crimes acometidos às mulheres lésbicas refletem a expressão de intolerância e de ódio contra as mulheres que se relacionam com mulheres, como se esta orientação sexual fosse passível de sofrer correção e punição.
No cotidiano, a lesbofobia está enraizada e escondida em muitas das tentativas de controle sobre as mulheres, desde os comentários hostis que são direcionados a mulheres consideradas pouco “femininas” até a divisão sexual do trabalho, que veta determinadas profissões às mulheres para que elas “não se pareçam com homens”, como se ambos os comportamentos, por si, fossem provas de que elas são lésbicas – algo repulsivo para a sociedade.
Assim, entendemos que o combate ao sexismo e a lesbofobia é essencial para que exista respeito às mulheres lésbicas para que estas possam ir e vir sem o constante medo de sofrerem as mais diversas violências.
Respeitar a diversidade passa pelo respeito às diversas maneiras de ser mulher independente de sua orientação sexual. Assim, se faz cada vez mais urgente à transformação deste mundo heterosexista, machista fundamentado em uma cultura patriarcal.
Para que a opressão deixe de se perpetuar é que nos rebelamos contra a aceitação do enfraquecimento e de tudo aquilo que, de alguma maneira “me rouba de mim”. É preciso nos libertarmos de tudo o que nos foi imposto e que nos produz resignação, medo, desespero, auto-aniquilamento, depressão, autonegação. Contra tudo isto é preciso nos visibilizarmos!!