Servidores de Canoas encerram capacitação sobre “Gênero e Saúde Mental”

maior__seminario_projeto_girassois_ireno_jardim_6 Foto: Ireno Jardim/Matr:5963. Encerramento da capacitação, que teve 180 horas, ocorreu no Auditório Sady Schwitz

Depois de 180 horas de capacitação sobre “Gênero e Saúde Mental”, agentes de saúde, lideranças comunitárias e integrantes de projetos sociais do município encerram etapa da proposta de desenhar uma linha de cuidado que reconheça e considere as questões de gênero como determinantes do sofrimento psíquico de mulheres vítimas de violência física e psíquica. As capacitações, promovidas pela ONG Feminino Coletivo Plural e pela Coordenadoria de Políticas para Mulheres de Canoas terminaram na terça-feira (7), com encontro realizado no Auditório Sady Scwitz.

“As capacitações foram o ponto de partida para a equipe seguir adiante na discussão do conceito do sofrimento psíquico”, destaca a secretária especial Lurdes Santin, que está à frente da Coordenadoria para Mulheres. Ela lembra que para sugerir um modelo de atenção em saúde mental que considere a forma de adoecer das mulheres, a ONG Coletivo Feminino Plural desenvolve desde 2014 um projeto em Canoas denominado “Girassóis – Saúde Mental e Gênero”.

Em parceria com o município, a ONG trabalha na elaboração de diagnósticos sobre as políticas de atenção à saúde mental e estudo de caso sobre relações entre violência e sofrimento psíquico. Ações educativas em comunidades e serviços de saúde foram realizadas em parceria com as Mulheres da Paz.

No encerramento, a médica baiana Maria José Araújo, que participou de três encontros, comentou que muitas mulheres não percebem a violência psicológica a que estão submetidas. A especialista em saúde da mulher na Sorbonne (França), com formação em saúde mental, destacou que muitos estudos mostram que uma em cada quatro pessoas desenvolve sofrimento psíquico em algum momento da vida, e nem sempre isso será reconhecido pelos serviços de saúde, e tão pouco será tratado de forma adequada. A série de capacitações envolveu cerca de 120 profissionais da rede no município.

A proposta do curso foi preparar profissionais para que possam questionar e superar visões e práticas marcadas por discriminações, estereótipos, fragmentação, medicação excessiva e invisibilidade das interseções que determinam maior vulnerabilidade das mulheres ao adoecimento psíquico. Durante o curso foram discutidos os procedimentos, os manejos, as metodologias de atendimento e assim promover a reflexão sobre práticas em vários sentidos.

Causas do adoecimento mental feminino

As mulheres são parcela numericamente muito importante, em especial quando a causa do adoecimento está ligada a fatores externos, como condições de vida, dificuldades econômicas, de trabalho, moradia, relações afetivas ou familiares. Segundo estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% dos casos são dessa ordem e as mulheres respondem por 74% deles. Para a OMS, as desigualdades sociais entre os homens e as mulheres são determinantes dos problemas de saúde mental da população feminina, já que aumentam a exposição aos riscos e a vulnerabilidade frente aos mesmos, limitando o acesso aos serviços e à informação em saúde, o que exige abordagens específicas.

Projeto Girassóis

O objetivo do Girassóis é evidenciar, na prática, os números e constatações da Organização Mundial da Saúde e sensibilizar a rede de atenção em saúde e para as mulheres em situação de violência para a importância de abordagem de gênero. Significa, segundo a médica Maria José, “ter que admitir que discriminação, a submissão à autoridade masculina e a modelos impostos provocam sofrimentos mentais, muitas vezes graves. Quando chegam aos serviços e apresentam uma maior vulnerabilidade a sintomas ansiosos e depressivos, especialmente associados ao período reprodutivo, passam por novas discriminações”.

Uma das consequências dessa situação é o uso abusivo dos medicamentos considerados de uso psiquiátrico. As mulheres estão entre os maiores consumidores desse tipo de medicamento no mundo, em torno de 75%, dada à sua situação de maior vulnerabilidade social. As mulheres das classes menos favorecidas, incluindo as negras, aquelas em situação de privação de liberdade, as adolescentes sem apoio social e as mulheres na terceira idade, segundo a Maria José “estão mais suscetíveis de passar por transtornos mentais graves causados pela superposição de vulnerabilidades, potencializando os agravos à saúde”, revela.

Fonte: Jornalista Rosilaine Pinheiro – MTE 17242, publicado em 10/07/2015.

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