Mariana Mendes por A TARDE, BA – Morreu na madrugada da sexta-feira, 26, em Salvador, a feminista e acadêmica Ana Alice Alcântara Costa, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim).
A cerimônia de cremação teve início por volta das 15h30, no Cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas. A causa da morte ainda não foi revelada.
Personalidades lamentam a perda da acadêmica, a exemplo da ministra Eleonora Menicucci. Ela enviou uma nota de pesar pela morte de Ana Alice.
“É com tristeza e pesar que a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República informa que encerra o ano de 2014 em luto pela morte da feminista e acadêmica Ana Alice Alcântara Costa”, disse a ministra, no comunicado.
“Como amiga e companheira de décadas de Ana Alice, transmito à sua filha Clarissa, ao filho Wladimir, à sua mãe e demais familiares meu carinhoso abraço cheio de saudade. As brasileiras perdem uma grande lutadora, a SPM, uma grande parceira e eu, uma grande amiga. Mas seu legado ficará para todas as gerações”, completou a ministra.
Referência
A ex-vereadora Olívia Santana, que irá assumir a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres (SPM) no governo de Rui Costa a partir de 1º de janeiro, deixou uma mensagem nas redes sociais.
No texto, ela destaca a importância de Ana Aline para as mulheres: “A Bahia acaba de perder uma das suas grandes mulheres, a feminista Ana Alice Costa, fundadora do Neim. O trabalho que vamos realizar na SPM, com certeza, terá muito a ver com as contribuições dadas por ela para o avanço da luta em defesa dos direitos da mulher”.
O Sindicato dos Professores das Instituições Federais do Ensino Superior da Bahia (Apub) também lamentou a morte da acadêmica. Em nota, o órgão afirma que “consternada, a Apub se solidariza com familiares e amigos neste momento de dor”.
O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, que esteve na cerimônia de cremação, falou da importância de Ana Alice para a academia e para o debate de gênero dentro e fora da universidade.
“Foi uma pessoa de dedicação imensa à universidade e na luta contra a discriminação de gêneros. O papel dela na Faculdade de Filosofia e em toda Ufba foi de grande importância. Ana Alice não só fortaleceu o estudo de gêneros, como levou essa discussão para o mestrado e doutorado. Todo esse trabalho está associado ao nome dela. Todos estão muito emocionados”, disse o reitor, referindo-se aos amigos e colegas acadêmicos da feminista.
Uma vida de luta
Natural da cidade baiana de Caravelas (a 870 quilômetros de Salvador), Ana Alice nasceu em 23 de dezembro de 1951. Na juventude, já nos anos 70, ela lutou contra a ditadura militar.
No mesmo período, em 1975, formou-se em ciências sociais pela Ufba. Em 1981 e 1996, respectivamente, fez mestrado e dourado em sociologia na Universidad Nacional Autónoma de México. Nesta época, ela também ingressou no Movimiento de Liberación de las Mujeres.
De volta ao Brasil, vinculou-se ao Grupo Feminista Brasil Mulher, primeiro grupo de gênero na Bahia. Em 1982, ela entrou na Ufba como professora do Departamento de Ciência Política. Junto com Cecília Sardenberg e outras colegas, criou no ano seguinte o Neim.
A sua luta em defesa da igualdade de gênero marcou sua trajetória dentro e fora da universidade. Um exemplo disso é o livro “As donas no poder: mulher e política na Bahia”, que tornou-se referência para o estudo do tema.
Sua dedicação à causa gerou novos frutos dentro da Ufba, depois do Neim. Em 2005, nasceu o primeiro programa de pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo.
Tantas lutas fizeram com que Ana Alice recebesse, em março de 2012, o prêmio Bertha Lutz, do Senado Federal, pelo seu trabalho e luta pelos direitos das mulheres.
Fonte: A TARDE, publicado em 26 de dezembro de 2014.