O ambiente esportivo, assim como acontece em todos os espaços, reproduz os padrões sociais e comportamentais de uma sociedade. No Brasil não é diferente. Desde a infância, a maioria de nós, mulheres, e de homens são estimulados diferentemente à prática de esportes. E o futebol até hoje é encarado como um espaço masculino.
Muito tem mudado, é verdade. Porém, bem menos do que gostaríamos. Durante a Copa do Mundo da Rússia, que, veja bem, acabou de começar, foram filmados e divulgados vídeos de torcedores humilhando e agredindo verbalmente mulheres russas. Um deles, o primeiro a ser amplamente divulgado, foi feito por brasileiros. No vídeo, esses homens falam palavrões em português, língua que claramente elas não estão entendendo, o que configura preconceito étnico, e as agridem verbalmente se referindo de forma pejorativa ao corpo feminino (machismo/misoginia). A chamada “brincadeira”, justificativa dada pelos abusadores dos vídeos e nos inúmeros casos vivenciados por mulheres no trabalho, nos grupos em redes sociais, na família e na conversa de bar, não tem graça. Isso torna a “brincadeira” VIOLÊNCIA.
E nós estamos indignadas com tamanha violência. Porém, não fomos pegas de surpresa. Esse não é um caso isolado de machismo dentro do ambiente esportivo e de futebol.
A campanha #deixaelatrabalhar, protagonizada por jornalistas, mas que incluiu também torcedoras, denuncia atos de violência cometidos nos estádios de futebol do nosso Estado e reivindica o direito de ocuparmos as arquibancadas e o campo e de sermos respeitadas. Nós não queremos ser musas da Copa, do Gauchão ou do que quer que seja. Queremos ser plenas no exercício da nossa profissão, em nossos momentos de diversão e lazer.
As violências, sejam elas físicas, verbais e/ou psicológicas tentam dar o recado de que não somos bem-vindas em todos os espaços. Mas nós seguiremos repetindo: Lugar de mulher é onde ela quiser!
Nos indignamos e nos mobilizamos contra essas atitudes machistas, que buscam impor o medo e controlar nossa liberdade. Nos posicionamos a favor da identificação e responsabilização dos assediadores.
Salientamos, ainda, que o estado brasileiro, enquanto signatário de tratados internacionais pelo respeito aos direitos humanos das mulheres e erradicação de todas as formas de violências contra as mulheres (como a CEDAW), deve cumprir com as estratégias e acordos para a eliminação da desigualdade de gênero. O Brasil precisa retomar a implementação das políticas públicas para as mulheres, encarar as discussões de gênero nas escolas, estabelecer uma interlocução com as mulheres em sua diversidade e reconhecer nossas pautas. Queremos ser ouvidas, respeitadas, livres para decidir e nos divertir!
Saiba mais sobre o caso:
Jurista russa denuncia brasileiros responsáveis por vídeo machista https://www.cartacapital.com.br/diversidade/jurista-russa-denuncia-brasileiros-responsaveis-por-video-machista
MP requisita investigação de policial catarinense em possível crime de racismo na Rússia http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2018/06/mp-requisita-investigacao-de-policial-catarinense-em-possivel-crime-de-racismo-na-russia-10383218.html