Mais da metade da população, menos de 10% no Parlamento

por Débora Fogliatto, do grupo Gemis – Gênero, Mídia e Sexualidade,  para Nonada – Jornalismo Travessia

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Baixa representatividade das mulheres na política brasileira ainda é um problema grave (Foto: agência Senado)

Na semana passada, 55 anos após a inauguração do Senado Brasileiro e 83 anos após conquistarem o direito ao voto no país, finalmente as mulheres legisladoras garantiram o direito a ter acesso a um banheiro no Plenário. Até então, as senadoras precisavam deixar o Plenário – onde acontecem as discussões e votações de projetos – para usar o banheiro de um restaurante ao lado. Apenas no fim de 2015 um banheiro começou a ser construído no local.

O fato, que pode parecer insignificante, é apenas uma forma de se perceber a falta de representatividade de mulheres na política brasileira. Atualmente, são 12 senadoras, dentre 81 parlamentares, o que representa cerca de 14%. Na Câmara Federal, o número percentual é ainda menor. Lá, onde são 513 parlamentares, apenas 51 são mulheres, ou seja, 9,94%. No estado, os números são mais baixos: apenas uma mulher foi eleita para a Câmara representando o Rio Grande do Sul, e na Assembleia Legislativa, sete foram eleitas entre os 55 deputados. Com a entrada de uma suplente, o número subiu para oito.

No âmbito Executivo, de 498 municípios gaúchos, 39 têm prefeitas mulheres e 46 vice-prefeitas, enquanto outros 459 são comandados exclusivamente por homens. Mesmo com uma presidenta, o Brasil ainda engatinha em termos de representação feminina na política.

É por esse motivo que As Sufragistas, em cartaz nos cinemas brasileiros, permanece tão atual e se encaixa na realidade brasileira. A luta das mulheres britânicas pelo direito ao voto não acaba em si mesma, mas sim permanece até os dias de hoje, provando que os espaços historicamente masculinos não estão tão disponíveis assim para as mulheres. A relação entre a Inglaterra dos anos 1900 e o Brasil de 2016 não é difícil de ser feita.

No senso comum, muito se ouve que as mulheres “não se interessam” por política, assim como se ouve que elas “não se interessam” por matemática, engenharia, tecnologia. Nesse sentido, os estereótipos a que elas estão sujeitas são apenas algumas das diversas formas de opressão que as mulheres sofrem, que incluem também a falta do direito a serem representadas.

Isso acontece por diversos motivos. Conforme aponta a cientista política Clara Araújo (pag. 7), em seu artigo Gênero e acesso ao poder legislativo no Brasil: as cotas entre as instituições e a cultura, “as dinâmicas de interação dos espaços públicos e, sobretudo, da política, foram estruturadas como algo aparentemente neutro, mas, de fato, baseadas, vivenciadas e definidas pelas práticas masculinas; por sua vez, o masculino tornou-se sinônimo de universal”.

O fato de as mulheres estarem historicamente relegadas ao plano privado, enquanto aos homens sempre couberam as decisões públicas e políticas, é o fundamento desta cultura que existe até os dias de hoje, mesmo com avanços conquistados. Para tentar mudar esta realidade, foram implantadas cotas em eleições para as mulheres, porém, 18 anos após sua implantação, os resultados não foram significativos. Em 2015, foram criadas também cotas que estabelecem que um mínimo de 30% de cadeiras no Legislativo sejam preenchidas por mulheres.

Mesmo assim, a eleição e subsequente reeleição da primeira mulher presidente foram avanços que não podem ser ignorados. A forma como a mídia e a população em geral se referem à Dilma Rousseff, porém, revelam o machismo intrínseco na nossa sociedade. Críticos da presidente não hesitam em chamá-la de “vagabunda”, analisar suas roupas e fazer piadas sobre sua vida sexual. A verdade é que o Brasil não está tão avançado em termos de direitos das mulheres quanto gostaria de acreditar, e a questão política é apenas um dos âmbitos em que é possível se perceber essa realidade.

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